O coração, responsável por transportar o sangue para todo o nosso corpo, possui quatro válvulas. Essas válvulas fazem com que o sangue siga sempre a mesma direção. À medida que a gente envelhece, uma dessas válvulas vai ficando mais estreita. Em algumas pessoas, que têm problemas como hipertensão, diabetes ou doença renal crônica, esse estreitamento acontece mais cedo desenvolvendo uma doença chamada esterose aórtica.
Pela primeira vez, uma equipe da Santa Casa realizou uma cirurgia cardíaca, com tecnologia de ponta, em uma paciente diagnosticada com essa doença. O TAVI, sigla em inglês para Implante de Válvula Aórtica Transcateter, é muito menos invasivo e o paciente se recupera muito mais rápido.
Por esse novo método, a equipe médica faz uma punção do tamanho de uma agulha e, por esse espaço, introduz um cateter na região da virilha e leva o implante até o coração. Essa prótese substitui a válvula “defeituosa”. O paciente é liberado em dois dias e se recupera em no máximo uma semana.
Pelo método tradicional, os médicos teriam que fazer uma cirurgia para abrir o tórax e o coração e conseguir fazer o implante. Além disso, durante o procedimento, o paciente teria que ficar ligado a uma máquina, que faria o papel do coração (oxigenar e distribuir o sangue para o resto do corpo). A recuperação do paciente, neste caso, também é bem mais lenta. Ele teria que ficar 8 dias internado e demoraria mais 6 meses para voltar às atividades normais.
O TAVI foi realizado pelas equipe de cirurgia cardiovascular, comandada pelos cirurgiões Rômulo Bonini e Virgínia Rivas Arcia, e pela equipe da Hemodinâmica, conduzida pelos médicos Said Assaf Neto e Sérgio Berti.
A doutora Virginia Rivas Arcia, cirurgiã cardiovascular, explica que “apenas 23 hospitais em todo o país têm autorização para fazer esse tipo de procedimento. Entre eles, o Albert Einstein, o Sírio Libanês e o HC de São Paulo. A Santa Casa tem uma equipe multidisciplinar também apta a fazer o TAVI”.
O procedimento de alto custo ainda não é financiado pelo SUS. “A Sociedade Brasileira de Cardiologia trava uma luta intensa para o procedimento entrar como tratamento financiado pelo governo federal”. Ainda de acordo com o médico Said Assaf, esse tipo de implante tem crescido no mundo, principalmente em pacientes idosos, que correriam muito mais riscos pelo método tradicional. No Brasil, desde 2014, cerca de 5 mil pacientes já fizeram o TAVI. “Só em 2019, perto de 2 mil procedimentos foram feitos, inclusive em hospitais distantes dos grandes centros médicos do País”.
Segundo o provedor da Santa Casa, Antonio Valério Morillas Júnior, até pouco tempo atrás, pacientes saíam de São Carlos para conseguir tratamento fora da cidade. São Paulo, por exemplo. Hoje, essa situação se inverteu. São Carlos hoje recebe pacientes do Estado de São Paulo e até de outros Estados para vir fazer procedimentos cirúrgicos. Isso mostra a confiabilidade da Santa Casa e a especialização na alta complexidade, o que a torna um dos maiores e mais bem equipados hospitais do Estado de São Paulo”.
Dona Carolina Daquino Sardanelli, de 83 anos, foi quem passou pelo procedimento. Ela voltou para casa dois dias depois de ter feito a cirurgia e já retomou as tarefas de casa: “estou ótima! Me sentindo muito disposta. Já me liberaram para fazer tudo, inclusive o almoço”.
A filha, Elaine Aparecida Sardanelli Borges, também está aliviada ao ver a mãe recuperada: “antes da cirurgia, era uma rotina de aflições, sem uma noite de sono tranquila. Tínhamos medo da mãe passar mal com falta de ar. Agora estamos todos muito satisfeitos com a cirurgia e com o carinho que os funcionários da Santa Casa nos ofereceram. Trataram minha mãe como uma rainha”.